A escritora Denise Emmer encontrou uma forma original de contar a história de Amiudinha, protagonista de O barulho do fim do mundo (Ed. Bertrand Brasil). A menina que vive com a mãe sanguessuga e o padrasto abusador cria um universo particular e poético para suportar a vivência. A moradia de 200 anos se torna uma aliada de Amiudinha e começa a ruir, o que se torna evidente a cada abertura de capítulo.
Denise entrega aos leitores uma narrativa que mescla o imaginário e o real, uma trama de fantasia e horror tecida com seu lirismo de poeta, sua musicalidade de violoncelista e sua perspectiva cósmica de física. Na trama narrada por uma casa com vida própria, conhecemos uma mãe cruel, um padrasto abusador e uma menina vítima dos dois. Amiudinha, obrigada a trabalhar e servir, tratada como uma escravizada para que lhe permitissem usufruir de tecto e comida.
Abandonada pelo pai ainda bebé — pelo simples fato de nascer mulher — cresceu sem saber o que era o amor materno, não teve uma mãe, apenas uma sanguessuga que a explorava nos trabalhos domésticos. A casa é tudo que ela conhece e sua grande companheira e aliada. E, pela menina, a casa é capaz de tudo.
Suposta venda ilegal de casas da empresa ECMEP semeia conflito na Maganja da Costa31 de agosto de 2021Jornal Visão MoçambiqueDestaqueNovo livro infantil de Isa Colli fala de autismo de maneira cativante e musical27 de junho de 2023Agostinho MuchaveCulturaMorreu o radialista e escritor Samuel Mathusse24 de agosto de 2021Agostinho MuchaveCultura
“Minhas chaminés, quase mortas e encardidas, faziam-nos cansar e tossir. Tossir. Tossir. E era nessa hora que os quartos sacudiam. As lâmpadas queimavam e as cortinas aventavam como saias. Dos telhados, caíam telhas avermelhadas qual hemoptises do tuberculoso que morou em mim. Não seria a sua bactéria ainda a circular por meus ares, mas outra, nova, avassaladora, advinda dos hábitos insalubres e repugnantes dos meus habitantes actuais. Sem a criada Miúda, filha e escravizada, comiam o que se arrastasse nos chãos mais imundos”, relata a casa-narradora.
Completamente sozinha e desamparada, tendo sido vítima de uma violência sexual, não tinha a quem recorrer, não tinha a quem pedir socorro. Da sensação de quase morte e tentando fugir da dor que sentia, Amiudinha adormeceu e de seu sonho um cão ganhou vida, um devoto animal surgirá da desesperança. Enorme e iluminado, o cão Lanterna tornou-se real, destinado a proteger e guardar a integridade da menina.
Foi há quatro anos que a autora começou O barulho do fim do mundo e parte do romance foi escrita durante a pandemia. A obra explora temas como solidão, abandono e falta de ar e de socorro. “Para escrever O barulho do fim do mundo, decerto, arrisquei-me, não só na solidão do vazio cósmico, como na escuridão das moléstias, no submundo dos carrascos, e na desvalorização da vida”, Denise Emmer.
Sobre a autora:
Denise Emmer tem graduação em física e em música, é poeta e romancista reconhecida com diversos prémios nacionais e internacionais, entre eles o Alceu Amoroso Lima Poesia e Liberdade, APCA, José Martí (UNESCO), Pen Clube do Brasil, Prémio ABL de Poesia e Prémio Olavo Bilac (ABL). Publicou 23 livros ao longo de sua trajectória literária, e seus poemas estão em antologias dos Estados Unidos, da Espanha, da Itália e da Turquia.
Curtir isso:Curtir Carregando...Comentários do Facebook
)
Rádio Cultura)